sábado, 21 de março de 2009

CAPÍTULO XIII - O INTRUSO

Numa manhã quente de Abril o sol brilha resplandecente sobre o orvalho da noite. Isabella acorda do seu sono sobressaltada por um pesadelo que a atormenta há várias noites. Com os olhos meio abertos ela sai da cama em camisa de dormir e vai à janela, num impulso abre esta de par em par. Ao olhar para a rua Isabella dá de frente com uma andorinha que construiu o ninho no beiral do celeiro. Esta quando viu Isabella canta parecendo dizer-lhe: " Bom dia! Parece que ainda estás a dormir?" Isabella sorrindo fala-lhe:
__ Olá amiginha! Quando chegaste? Parece que não esqueceste que eu te esperava. Pois sim! Esperei todo o inverno para que chegasse este momento.
A andorinha parou de cantar. E silenciosa parece abanar a cabeça num gesto de agradecimento. Isabella olhou em volta para se certificar se sua amiga estava só. Logo concluiu que sim e, pensou: "Que alegria, as minhas amiginhas vão voltar. Uma hoje, outra amanhã e assim vão chegando todas. Que bom!"
Isabella gosta muito dos animais e, quando está triste é a eles que conta as suas mágoas. Mas também quando está feliz são eles os primeiros a quem ela conta as suas alegrias. Isabella costuma dizer que os animais compreendem melhor as crianças que os adultos.
Depois de falar com sua amiginha, Isabella fecha a janela do quarto e vai arranjar-se para ir para a costura. Pois a sua mestra, assim como as suas companheiras esperam-na todos os dias às nove horas da manhã.
Na madrugada do dia seguinte, a Quinta estava em silêncio, quando ao longe se ouve o cão ladrar. José da Silva sentou-se na cama à escuta do que pudesse ouvir. O cão não voltou a ladrar e o homem voltou a dormir. Só voltou a acordar uma hora depois quando a mulher, aflita, o chama:
__ José, José! Olha quem está aqui! O nosso bebé.
__ O que me dizes tu? O nosso bebé! E como veio ele cá ter?
__ Não sei __ diz a mulher aflita __ mas alguém o veio cá pôr.
__ Cá pôr! Onde mulher? __ Interrogava o homem ainda meio acordado.
__ Sim __ diz ela __ o bebé estava à porta enrolado num cobertor e, dentro de uma alcofa.
__ Oh mulher o que me dizes! Pois esse homem sem escrúpulos, sem coração, esse intruso que entrou na nossa família, para mal dos meus pecados, veio cá à porta, pôr o filho? Essa é boa... mas deixa! Dá-me cá o bebé.
O homem pegou a criança ao colo e olhando-a exclamou:
__ Anda cá meu rapaz, meu inocente! Começas cedo a sofrer. O teu pai é um selvagem. Mas olha, agora ficas cá com a tua irmã e quando a tua mãe voltar do hospital fica cá também. Este teu velho avô não tem muito dinheiro, mas tem coração __ acrescenta José da Silva.
A Senhora D. Isabel olha o marido com devoção. Ele olha para ela e diz-lhe:
__ Isabelinha eu sei que tu nas minhas costas e na ausência do teu genro ias lá a casa tratar do bebé e das outras crianças. Não! Não me vais dizer que não é verdade!
__ Está bem, não digo nada __ respondeu a Senhora D. Isabel como apanhada em falta. Ele prosseguiu:
__ Pois agora, já não tens que lá ir. O bebé vai cá ficar e mandaremos dizer à Judite na próxima carta que temos o filho cá em casa. E antes que ela tenho alta do hospital tens também de lhe dizer que a Maria José já não está entre nós, para ela se mentalizar com a sua morte. Claro que não lhe vais dizer na carta que ela se matou. Dizes apenas que ela partiu.
No hospital a senhora D. Judite lê a carta da mãe e fica a pensar: "A Maria José partiu? Mas que estranha notícia e tão mal explicada. Que teria acontecido?" __ Perguntava a mulher de si para si. Pensou escrever, mas como estava à espera do médico para lhe dar alta, desistiu.
Nas consultas da tarde, o médico chamou as doentes da sala quatro e, em especial da cama vinte e dois.
__ Então Judite, como te sentes?
__ Eu sinto-me bem, Senhor Doutor.
__ Então queres ir para casa? __ Pergunta o médico.
__ Quero sim, Senhor Doutor __ acrescenta a mulher ansiosa por voltar a ver os seus entes queridos.
__ Então tens alta amanhã. Podes tratar já das tuas coisas, assim como da tua passagem para voltares a casa. E diz-me há quanto tempo estás cá internada?
__ Há sete meses, Senhor Doutor.
__ Ah, sim! Compreendo que tenhas saudades de casa __ diz o médico enquanto se afasta da sala de consultas.
A Senhora D. Judite comunica à mãe por telegrama que chegaria a casa no fim da semana. Esta tem tudo em ordem para receber a filha. Isabella está radiante porque a mãe chega e, deseja que o irmão aprenda a andar. Por essa razão deixa de ir à costura naquela semana e tenta ensinar ao irmão a andar. O bebé já dá uns passos, mas os mesmos não agradam à irmã. Ela quer mais. Isabella quer o bebé a andar sozinho e com desenvoltura.

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Tenho bom coração, bom carácter, gosto da humanidade em geral, gosto de crianças... diversão: gosto de ler, de escrever, conviver, gostava de ter amigos verdadeiros, como divorciada não gostava de envelhecer sozinha, estou em casa sempre que não trabalho... e gostava de ser mais feliz... encontrar alguém para amar e fugirmos à monotonia.