domingo, 3 de maio de 2009

sábado, 4 de abril de 2009


CAPÍTULO I - ISABELLA

Como o desabrochar de uma flor uma criança nasce. Os seus olhos mais parecem botões de rosa que se abrem como pétalas, mas logo se fecham. A luz do Mundo onde ela acaba de chegar é tão forte que os seus olhos não resistem à chama de um candeeiro de petróleo que estava sobre a mesa de cabeceira, junto ao berço de verga, onde a mãe a deitara.
A chuva caía lentamente como um canto de embalar. Aqui e ali frias gotas de água rolavam pelo tecto de telha-vã e iam cair no solo de altos e baixos do casebre, onde a recém-nascida dormia. O vento lá fora num leve murmúrio parecia dizer: " dorme que a vida é longo esperança e longa paciência".
Foram decorridos cinco anos. Aos caseiros mais dois filhos nasceram.

* * *

Isabella já tinha dois irmãos, mas ela tinha apenas seus irmão, não tinha bonecas, nem outros brinquedos e nem roupas novas. Seria só isso? Não. A Isabella faltava-lhe qualquer coisa, mais necessária.
Um dia, quando ela tinha seis anos, a sua avó, que vivia numa quinta um pouco afastada foi visitá-la. A pobre Senhora ao olhar a neta estremeceu e logo lhe surgiu a ideia. " Minha neta é infeliz ... vou levá-la comigo". Convidou-a. Isabella radiante pergunta:
__ Para tua casa avozinha?
__ Sim, sim __ respondeu a avó com um sorriso terno nos lábios.
A criança sentiu-se feliz com a ideia de sua avó e, disse:
__ Sim avozinha, mas vou primeiro buscar a cadeirinha que o avozinho deu à menina.
Isabella uma criança meiga e bonita, outrora triste, mas agora feliz e radiante de alegria.
Na casa de sua avó, a qual considera sua, todos os dias pela manhã vai sentar-se no alpendre, onde brinca com as bonecas de trapo que a sua avó lhe havia feito. A pequenita brinca alegremente. Tudo o que a rodeia é belo, amoroso e, assim Isabella esquece os dias sombrios que passaram pela sua vida de criança.
Ao fazer sete anos, a sua avó mandou-a para a escola. Isabella, cheia de entusiasmo gritava e saltava de um para o outro lado, enquanto dizia:
__ Que bom vou para a escola aprender a ler e a escrever!
E assim foi...

CAPÍTULO II - A INCERTEZA

Na escola Isabella fazia os seus trabalhos com todo o interesse. Os seus livros e cadernos andavam sempre limpos, era um gosto olhá-los e folhear as suas páginas. Os seus companheiros admiravam-na e alguns até tentavam imitá-la.
Maria José companheira de carteira de Isabella, era mais velha que esta, sete anos. Era loira de olhos verdes. Muito bonita por sinal, mas andava sempre só e triste. A sua tristeza não a deixava conviver, sorrir e brincar como uma criança normal.
Na hora do recreio, num dia de chuva, Maria José estava sentada num degrau da escada e, chorava.
__ Maria José porque choras? Não tens com quem brincar?
Maria José respondeu-lhe:
__ Não. Tu queres brincar comigo?
__ Sim, quero __ respondeu-lhe Isabella.
E foi assim que Isabella e Maria José se tornaram amigas. Elas brincavam, estudavam, riam às gargalhadas e contavam as suas vidas uma à outra. As suas brincadeiras eram cheias de um carinho puro, de um sentimento igualitário onde só o coração é o rei.
Um dia sentadas no recreio da escola brincavam às sete pedrinhas. De repente ficaram caladas. Olharam-se nos olhos e o silêncio continuou por algum tempo, até que foi interrompido por um dos seus colegas.
__ Isabella, Maria José! Venham: a aula já recomeçou.
Em silêncio levantaram-se... havia lágrimas nos seus olhos. Atrasadas entraram na sala de aulas. A professora perguntou-lhes:
__Meninas aonde estiveram? E qual a razão dessas caras?
Isabella não respondeu. A professora continuou:
__ Maria José, tu és capaz de responder à minha pergunta?
Maria José com os olhos postos no chão, responde:
__ Sim, Senhora Professora.
__ Então fala! Eu quero saber o que se passa __ acrescenta a professora um tanto zangada.
__ Eu e a Isabella estávamos a brincar às sete pedrinhas e não ouvimos tocar o chocalho.
__ É só isso? Então faça o favor de se sentar.
__ Sim, Senhora Professora.
Terminada a aula, as duas amigas saíram juntas. Ambas caminhavam lado a lado caladas, como se alguma coisa misteriosa tivesse acontecido. Isabella interrompeu o silêncio perguntando:
__Maria José estás tão triste esta tarde, que aconteceu?
__ Não sei __ respondeu Maria José à sua amiga. __ Só me sinto triste por minha madrinha estar doente e eu não a poder tratar por causa de vir para a escola.
__ E a tua mãe, não pode tratar da tua madrinha?
__ Eu não tenho mãe. A minha mãe morreu quando eu nasci. O meu pai casou com outra mulher e partiu...
Ambas ficaram ainda mais tristes e nos seus olhos haviam lágrimas represadas. Limparam os olhos e olharam-se em silêncio com expressões de carinho no rosto. Maria José foi quem primeiro falou:
__ E a tua mãe, também morreu?
__ Não __ respondeu Isabella. __ A minha mãe está em casa com o meu pai e com os meus irmãos. Eu estou a viver com os meus avós, mas às vezes sinto saudades de todos...
Calou-se. Ela mesma não sabia explicar. Maria José continuou:
__ Deixa lá não chores, eu sou tua amiga.
Elas eram amigas inseparáveis, mas o destino tão cruel não escolhe indivíduos nem fronteiras. E assim com o acabar do ano lectivo foi marcado o dia da separação desses dois corações que, nada de mal tinham feito ao Mundo. A não ser o de terem nascido no seio de famílias menos felizes e, que só por isso, vinham sendo marcadas para sempre na ignorância e na impossibilidade de amar com instrução os seus filhos. E dar-lhes a compreensão e o carinho de que tanto a criança precisa para ser feliz e saudável.
" Se não reprimir as crianças não precisará de educar os adultos".

sexta-feira, 3 de abril de 2009

* * *

Recomeçadas as aulas voltou o entusiasmo nas crianças da escola mista da província onde se ensinavam as quatro classes primárias. Para Isabella tudo era vácuo, destituído, mas logo a recordação de Maria José surgiu interrogando-a. "Onde estará a minha melhor amiga?
Na grande coragem de que era portadora a sua alma, no corpo frágil onde a esperança nunca adormecia, vivia agora a fúria dos dias solitários, mas mesmo assim Isabella conseguia passar todos os anos, na esperança de todos os dias ver mais além do que os seus olhos lhe mostravam. Ultrapassar a faixa branca que separa o mar do céu e o céu da terra, a grande e infinita faixa que separa as duas faces do Mundo. Mas tudo isto não passava de um sonho. Isabella não continuava os estudo. Eram grandes as dificuldades. O seu avô que tinha saído para a Vila havia dois dias, não regressara a casa. Por toda a parte se perguntava e se falava baixinho, mas ninguém respondia directamente a uma só pergunta que lhe fosse feita.
Na Quinta das Rosas vivia uma mulher e uma criança. Uma criança que sonhava um futuro, que tinha muitas e muitas perguntas a fazer, mas que, nem uma só pronunciava. O seu instinto de criança sabia a resposta. Mas sabia também que seu avô não era mau, mas, todavia estava preso numa casa escura, talvez ainda mais escura que a despensa da escola onde a professora fechava os meninos que não sabiam as lições. "Mas os seus companheiros não sabiam as lições. E seu avô, porque estaria preso numa casa escura?"_ pensava.
Isabella recordava a voz de uma mulher que estava falando do seu avô, na mercearia do Senhor Monteiro, quando ela foi fazer um recado à avó.
"Tu sabes Carolina? O José da Silva está fora de casa há dois dias, ninguém sabe dele, uns dizem que ele está preso, outros que está morto."
" Que dizes mulher? __ Pergunta Carolina. __ Sim. O José da Silva que mora na Quinta das Rosas, o avô de Isabella".
" O quê? Ah mulher! Então o homem nunca fez mal a ninguém. Não pode ser verdade __ acrescenta Carolina."
Enquanto as duas mulheres falam todas as outras pessoas se afastam. Carolina ao olhá-las não pôde calar um grito de revolta e, diz-lhes:
" Oh gente! Porque tenhais medo de ouvir falar de um homem honesto que, nunca roubou nem matou ninguém! Ou tenhais medo que a sua dor, a sua tortura ou a sua morte, um dia sejam louvadas?"
Carolina fez uma pausa e, ao olhar a porta da rua vê Isabella de boca aberta e de lágrimas nos olhos. Carolina logo compreende que as suas palavras, embora com boas intenções, fazem sofrer aquela criança que nada de concreto sabe de seu avô.
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Acerca de mim

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Tenho bom coração, bom carácter, gosto da humanidade em geral, gosto de crianças... diversão: gosto de ler, de escrever, conviver, gostava de ter amigos verdadeiros, como divorciada não gostava de envelhecer sozinha, estou em casa sempre que não trabalho... e gostava de ser mais feliz... encontrar alguém para amar e fugirmos à monotonia.