Na escola Isabella fazia os seus trabalhos com todo o interesse. Os seus livros e cadernos andavam sempre limpos, era um gosto olhá-los e folhear as suas páginas. Os seus companheiros admiravam-na e alguns até tentavam imitá-la.
Maria José companheira de carteira de Isabella, era mais velha que esta, sete anos. Era loira de olhos verdes. Muito bonita por sinal, mas andava sempre só e triste. A sua tristeza não a deixava conviver, sorrir e brincar como uma criança normal.
Na hora do recreio, num dia de chuva, Maria José estava sentada num degrau da escada e, chorava.
__ Maria José porque choras? Não tens com quem brincar?
Maria José respondeu-lhe:
__ Não. Tu queres brincar comigo?
__ Sim, quero __ respondeu-lhe Isabella.
E foi assim que Isabella e Maria José se tornaram amigas. Elas brincavam, estudavam, riam às gargalhadas e contavam as suas vidas uma à outra. As suas brincadeiras eram cheias de um carinho puro, de um sentimento igualitário onde só o coração é o rei.
Um dia sentadas no recreio da escola brincavam às sete pedrinhas. De repente ficaram caladas. Olharam-se nos olhos e o silêncio continuou por algum tempo, até que foi interrompido por um dos seus colegas.
__ Isabella, Maria José! Venham: a aula já recomeçou.
Em silêncio levantaram-se... havia lágrimas nos seus olhos. Atrasadas entraram na sala de aulas. A professora perguntou-lhes:
__Meninas aonde estiveram? E qual a razão dessas caras?
Isabella não respondeu. A professora continuou:
__ Maria José, tu és capaz de responder à minha pergunta?
Maria José com os olhos postos no chão, responde:
__ Sim, Senhora Professora.
__ Então fala! Eu quero saber o que se passa __ acrescenta a professora um tanto zangada.
__ Eu e a Isabella estávamos a brincar às sete pedrinhas e não ouvimos tocar o chocalho.
__ É só isso? Então faça o favor de se sentar.
__ Sim, Senhora Professora.
Terminada a aula, as duas amigas saíram juntas. Ambas caminhavam lado a lado caladas, como se alguma coisa misteriosa tivesse acontecido. Isabella interrompeu o silêncio perguntando:
__Maria José estás tão triste esta tarde, que aconteceu?
__ Não sei __ respondeu Maria José à sua amiga. __ Só me sinto triste por minha madrinha estar doente e eu não a poder tratar por causa de vir para a escola.
__ E a tua mãe, não pode tratar da tua madrinha?
__ Eu não tenho mãe. A minha mãe morreu quando eu nasci. O meu pai casou com outra mulher e partiu...
Ambas ficaram ainda mais tristes e nos seus olhos haviam lágrimas represadas. Limparam os olhos e olharam-se em silêncio com expressões de carinho no rosto. Maria José foi quem primeiro falou:
__ E a tua mãe, também morreu?
__ Não __ respondeu Isabella. __ A minha mãe está em casa com o meu pai e com os meus irmãos. Eu estou a viver com os meus avós, mas às vezes sinto saudades de todos...
Calou-se. Ela mesma não sabia explicar. Maria José continuou:
__ Deixa lá não chores, eu sou tua amiga.
Elas eram amigas inseparáveis, mas o destino tão cruel não escolhe indivíduos nem fronteiras. E assim com o acabar do ano lectivo foi marcado o dia da separação desses dois corações que, nada de mal tinham feito ao Mundo. A não ser o de terem nascido no seio de famílias menos felizes e, que só por isso, vinham sendo marcadas para sempre na ignorância e na impossibilidade de amar com instrução os seus filhos. E dar-lhes a compreensão e o carinho de que tanto a criança precisa para ser feliz e saudável.
" Se não reprimir as crianças não precisará de educar os adultos".
2 comentários:
com certeza que vai gostar. deixo sua opinião.
jinhos
Agradável reconhecer este trabalho de há 30 anos estar na atualidade.
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