quinta-feira, 19 de março de 2009

* * *

No domingo de Páscoa pelas quatro horas da madrugada fez-se ouvir, primeiro ao longe depois mais perto e por fim junto à Quinta das Rosas, um ruído que era, nem mais nem menos que o rodado de uma carroça. Uma carroça que ia com destino determinado, destino esse que separava os seus destinatários cerca de cinquenta quilómetros do lugar onde partira. A carroça além dos seus ocupantes transportava, mobílias, utensílios domésticos e agrícolas.
José da Silva que àquela hora da manhã estava deitado, ao ouvir o ruído levantou-se e foi ver passar a carroça com a ideia de ver a filha e os netos. Quando deixou de ouvir o ruído pensou de si para si: será a última vez que vejo a minha filha e os meus netos? Pensativo voltou para o quarto e volta a deitar-se. A mulher não está no quarto, se não tinha sido testemunha das suas lágrimas. A senhora D. Isabel estava no quarto da neta e, estava com o mesmo pensamento e tal como ele os seus olhos estavam lavados em lágrimas.
No silêncio e na sob-escuridão do quarto fez-se ouvir a voz de Isabella:
__ Avozinha já é manhã?
__ Não, não é manhã! São quatro horas da madrugada, mas vá lá dorme. Amanhã vai estar um lindo dia e, tu vais levantar-te cedo para veres as andorinhas pequeninas que nasceram ontem.
__ Nasceram avozinha? Ah, como devem ser lindas! Está bem eu vou dormir para levantar cedo. Sim?!
A avó não respondeu, apenas levantou a cabeça num gesto afirmativo. A criança fechou os olhos para dormir. Quando os volta a abrir são sete horas da manhã.
O dia acaba de nascer e no céu muito azul já o sol brilha resplandecente de luz. Aos longe o mar bate as suas ondas como claras em castelo. As andorinhas chilreiam alegremente enquanto procuram alimento para os seus filhotes. Isabella cambaleante caminha em direcção à janela do seu quarto, ao abri-la o sol entra e enche o quarto de luz. Ela fica um momento à janela a ouvir o canto dos pássaros, a olhar o orvalho da manhã, a olhar o céu e o mar muito azuis... havia apenas uma diferença __ pensou __ o azul do mar é mais azul que o azul do céu. E aquela faixa branca que separa ambos parece de algodão. Tudo é tão belo e tão cheio de amor. Tudo é tão simples, tão natural, como o nascer e o morrer. Mas eu... eu quero viver! Num impulso, como que impelida por uma mola, Isabella sai da janela vai ao armário onde guarda as suas roupas e tira um vestido seu preferido. Veste-o e sai para a rua. O seu pensamento está muito longe... pois a razão do seu sofrimento partiu há poucas horas. Ela sente um extraordinário alívio, mas pensa já nas saudades que irá sentir da mãe e dos seus irmãos, principalmente do bebé.

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Tenho bom coração, bom carácter, gosto da humanidade em geral, gosto de crianças... diversão: gosto de ler, de escrever, conviver, gostava de ter amigos verdadeiros, como divorciada não gostava de envelhecer sozinha, estou em casa sempre que não trabalho... e gostava de ser mais feliz... encontrar alguém para amar e fugirmos à monotonia.