sexta-feira, 20 de março de 2009

* * *

Pelas cinco horas na tarde de sexta-feira chega à Quinta das Rosas um táxi conduzido pelo seu proprietário vindo da estação, dos caminhos de ferro, mais próxima que ficava a vinte quilómetros da quinta onde acabava de chegar.
Isabella estava no alpendre da casa com o irmão mais novo e ensinava este a andar quando ouviu o rodado dum automóvel ficou sobressaltada. Muito pouco à-vontade sai do alpendre para ver o que se passa. Logo reconhece a mãe e corre para ela com o bebé. Este chora dizendo:
__ Mamã, o menino tem medo do automóvel.
__ Não tenhas medo __ disse-lhe Isabella pegando-o ao colo. __ É a nossa mãe.
__ Não! Não quero __ gritava a criança aflita.
A criança não conhecia aquela mulher que acabava de chegar de automóvel. A Senhora D. Judite olha o filho e vai para pegá-lo ao colo, mas ele agarra-se ao pescoço da irmã e não pára de chorar. A mulher desistiu de o pegar ao colo e abraça dos dois.
No dia seguinte, a Senhora D. Judite, já repousada da viagem diz para a mãe:
__ Minha mãe eu quero que me fale da Maria José, da Teresa e do João. Como estão os meus filhos? A mulher fez uma pausa esperando que a mãe lhe disse-se algo. Esta olhou a filha como a certificar-se do seu estado de saúde. Depois diz:
__ Judite, os teus filhos estão bem, claro!
__ Sim. É que mandou-me dizer na sua carta que Maria José tinha partido. Eu fiquei muito preocupada com as crianças. Mas que aconteceu com a Maria José?
A mulher fica sem saber como dizer à filha. Era tão difícil voltar a falar da tragédia. Mas enche-se de coragem e diz:
__ Olha filha, antes de te contar tudo peço que nos desculpes a todos. Está bem? __ Pediu a Senhora D. Isabel, e continuou. __ Mas não me interrompas por favor.
__ Sim minha mãe __ prometeu a filha.
__ Há oito meses atrás quando o teu marido bateu na filha. Estás recordada? Ela foi no dia seguinte apanhar figos de castigo, e...
Quando a mãe acabou de falar olhou a filha. Esta estava pasmada na sua frente. Com os olhos postos numa moldura, as lágrimas rolavam-lhe pela face. A custo, diz:
__ OITO meses! Há oito meses que Maria José está morta? Oh, minha mãe, como é difícil e triste . E eu, sem saber. E ele foi castigado?
__ Não filha! Não foi __ responde-lhe a mãe.
__ Agora compreendo! __ Exclama a Senhora D. Judite. __ Minha mãe, ele trabalha? Eu quero ir lá a casa ver os meus filhos.
A mãe olha para ela e diz:
__ Sim. Ele anda a trabalhar. Eu, sem teu pai saber, tenho lá ido tratar das crianças. Mas tu queres mesmo lá ir ou queres ir para tua casa de todo? Olha filha, ele é o teu marido, nós já estamos velhos. E tu tens lá os teus filhos. Ouve Judite, eu quero que saibas que não me oponho a que vás para a tua casa.
Depois do almoço a Senhora D. Judite foi ver os filhos. Encontrou tudo tão sujo que passou todo o dia a limpar. E quando ao pôr-do-sol pensou voltar os filhos agarraram-se à mãe a chorar que ela não teve coragem de os deixar.
Já depois do sol posto João Reis chega a casa. Mal transpõe a porta dá com os olhos na mulher que está na sua frente. Surpreendido exclama:
__ Ah! És tu? Mas como estás diferente? E muito mais forte.
A Senhora D. Judite sentiu um calafrio pela coluna acima a sumidamente diz:
__ Sim sou eu. Cheguei ontem do hospital e vim ver os meus filhos. Tens alguma coisa para me dizer?
__ Não __ respondeu João Reis. __ Que queres que te diga?
__ Ah, sim! Tudo o que aconteceu foi normal para ti. Mas olha para mim não é __ diz a Senhora D. Judite levantando a voz.
__ Mas, ouve! Tu vieste cá para ver os teus filhos ou para me dares ordens? Se foi para isso estás enganada. Eu não mudei nada.
A mulher compreendeu que sim. O marido não tinha mudado nada. Por isso não tinha mais nada a dizer. Calada vai para a cozinha fazer o jantar. E prometeu a sim mesmo não falar mais no assunto.
Depois do jantar deitou os filhos e ela ficou junto deles. Em toda a noite, não pregou os olhos a pensar na melhor maneira de criar os filhos. Logo tem uma ideia. "Sim é isso que vou fazer. Os meus pais já sofreram bastante. Eu não posso permitir que eles sofram mais. Assim que o sol nascer vou buscar o bebé para casa e fico com eles."
Na manhã do dia seguinte, a Senhora D. Judite vai à quinta e de regresso traz consigo o be. João Reis quando a vê chegar com o filho ao colo diz-lhe:
__ Ah, sim! Tu foste buscar o bebé. E a Isabella? Não a trouxeste? Pois eu quero que a vais buscar.
A mulher olha-o. Sem responder vai para o quarto. Deita o filho e senta-se junto dele. Este, não está habituado à mãe chora num choro convulsivo que a mulher não sabe que fazer para o calar. Decidiu chamar Teresa e recomenda-lhe:
__ Teresa vê se calas o bebé. Ele comigo não pára de chorar.
João Reis depois da mulher sair do quarto aproveita para lhe dizer, segunda vez, que quer que Isabella vá para casa.
__ Mas como? Tu sabes bem que a minha mãe está muito habituada à neta. E Isabella também está muito bem na quinta. Ela foi para casa dos avós tinha seis anos. Hoje já tem quase doze anos. Não pensas nisso? Não pensas no desgosto que lhe irias dar? E à minha mãe que a tem criado como filha? Tu não pensas em nada disto, pois não? Foi a minha mãe que a mandou para a escola. É também a minha mãe que a manda para a costura. Se Isabella estivesse cá tu mandava-la para a costura? Não! Isabella ia apanhar erva para as vacas como ia a Maria José e como vão agora a Teresa e o João. Tu não pensas na tua filha, pois não? Ou melhor nos teus filhos. Para ti só contam os lucros. Nem pensas em mim... se não fosse o meu pai, a estas horas estaria eu debaixo da terra. Pois eu penso! Penso nos meus filhos e gostava que eles estudassem que criassem conhecimentos para se poderem defender dos pontos maus da vida. Mas tu não. Exploras as crianças quase desde que nasceram! És um explorador dos teus filhos. E depois de ti serão outros. Serão os Patrões __ exclama revoltada a Senhora D. Judite e acrescenta. __ Pois eu não vou buscá-la nem lhe digo nada.
__ Está bem __ diz o homem zangado. __ Eu mandarei à quinta a Teresa dizer-lhe. E se ela não vier, eu mesmo irei buscá-la. Teresa! Teresa! Onde estás? __ Chama o homem em altos gritos.
__ Estou aqui, meu pai... aqui no quarto a adormecer o menino.
__ Anda cá, eu quero que vás à quinta __ diz o homem de mau humor.
Teresa sai do quarto e vai ao encontro do pai que está na divisão ao lado. Em pé no meio da casa, de modos altivos que são bem próprios dele, o homem espera a filha. Esta pergunta-lhe:
__ O que é pai?
__ Vais à quinta dizer à tua irmã que venha cá que eu quero falar com ela. Se ela não estiver não esperes, mas diz ao teu avó que nós vamos embora daqui e que levamos a Isabella connosco. E diz ainda a esse comunista, do teu avó, que não penso fazer nada contra mim, se não quer ir para a gaiola __ as últimas palavras saíram-lhe da garganta risórias. Não te esqueças diz-lhe isso mesmo __ recomenda ele à filha. Esta, baixa os olhos e diz sumida mente:
__ Digo. E depois?
__ Digo. E depois? Digo. E depois? Vai! Faz o que te digo.
A criança cabisbaixa, descalça, com os pezitos calosos e sujos sai de casa e caminha em direcção à Quinta das Rosas.

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Tenho bom coração, bom carácter, gosto da humanidade em geral, gosto de crianças... diversão: gosto de ler, de escrever, conviver, gostava de ter amigos verdadeiros, como divorciada não gostava de envelhecer sozinha, estou em casa sempre que não trabalho... e gostava de ser mais feliz... encontrar alguém para amar e fugirmos à monotonia.