domingo, 8 de março de 2009

* * *

Chegou o verão e com ele, o calor abrasador dos dias desejados e indesejados do ano. Na planície fronteiriça à aldeia Luís Francisco tudo havia mudado de cor: o relvado e as flores silvestres que outrora perfumavam a atmosfera com o seu perfume, agora estavam caídas pelo calor tórrido do verão, sem com tudo terem perdido a sua graça. A sua beleza era agora cor de ouro.
Isabella, como que numa romaria em peregrinação a um lugar sagrado, caminha por entre folhas secas e vai sentar-se junto a um monte de pedras a contemplar a paisagem. O seu pensamento está naquele moço que ela conheceu ali, naquele lugar. Nunca perguntara a Marta pelo seu irmão. Nem mesmo a partir daquele dia teve a coragem de o fazer. Marta lhe havia falado dele muito vagamente e ela não entendeu a razão de sua ausência. Que teria acontecido a Alexandre? Estaria no mar? Perguntava-se no silêncio daquele lugar místico. E porque não teria ido ele despedir-se dela uma vez que lhe havia dito que a amava. Ou não era verdade? Mas não havia direito! Ela acreditou nele e o seu coração agora pertencia-lhe.
Isabella estava tão absorvida nos seus pensamentos que não deu por chegar junto dela o carteiro que a chamava:
__ Menina Isabella! Menina Isabella! Aqui tem uma carta. É para si.
__ Para mim? __ Pergunta Isabella parecendo acordar de um sono profundo.
__ Sim, para si, menina. Já lá foi a sua casa, mas a menina não estava e sua avozinha também não. E como a vi aqui...
__ Está bem Ricardo. Dá-ma. Obrigada!
__ De nada, menina, de nada... Adeus!
__ Adeus Ricardo!
Depois do carteiro se afastar, Isabella olha o envelope: era de avião. A rapariga trémula olha geometricamente as desenhadas letras do remetente enquanto as lê pausadamente: "Alexandre Guimarães dos Santos" "Luanda" "Paquete Vera Cruz".
Apressadamente abre o envelope.
"Isabella. Eu quero dizer-te através destas linhas, o muito que te amo, mas não sei todavia se é possível! Sei sim e apenas que sinto aliviar, do meu coração, o peso desta chama que me arde, desde o dia que nos vimos pela primeira vez. E que os nossos lábios encontraram, no longo beijo que trocamos, a única razão de existirem. Sei ainda que te vejo em toda a parte, esteja eu acordado ou sonhando.
Não sei, isso não, se me amas ou se, por ventura minha, o teu coração me reclama. Mas diz. Diz meu amor! Se por mim a chama da paixão te queima o coração.
Escreve, Isabella! Abre o teu coração para que eu possa ser feliz. Eu, meu amor, deixo aqui dito que te amo acima de todas as coisas. Um Beijo. Adeus!"
"Alexandre"
Depois de ler o contiúdo da carta, Isabella volta a dobrá-la e guarda-a no peito, junto ao coração.
__ Ao chegar a casa a avó a chama.
__Isabella! Isabella! Onde estás?
__ Estou aqui avozinha__ responde a rapariga e corre ao encontro da avó.
__Vem cá! Tenho uma coisa para ti. Comprei na cidade__ exclama a senhora D. Isabel __ e é muito bonita. Anda vem vé-la!
Isabella chega por fim junto da avó. Esta passa para as mãos da neta um bonito embrulho. É para ti filha. Não o abres? Vá abre eu também quero ver.
Isabella, com o embrulho nas mãos, olha a avó e sem dizer palavra abre o embrulho. Dentro deste saíu um lindo vestido branco. Ao vé-lo a rapariga exclama admirada:
__ É um vestido? Ah, mas para quê? Eu tenho vestidos e não era preciso a avozinha gastar dinheiro.
__ Não, filha! Tens vestidos, mas esse é para vestires no baile de aniversário do clube. Eu quero que a minha neta seja a rainha do baile.
__ Mas avozinha eu não vou ao baile.
__ Não vais ao baile? Porque não?
__ Porque não quero ir.
__ Queres dizer que eu vou ao baile e tu ficas em casa?
__ Pois claro. A minha avozinha pode ir com a D. Beatriz e a Paula. Eu fico em casa.
__ Não minha filha! Se tu não queres ir é lá contigo. Mas se tu não fores eu também não vou.
__ Está bem, avozinha, falaremos nisso mais tarde. Sim?
__ Claro, filha! Temos muito tempo para decidirmos e até lá...

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Tenho bom coração, bom carácter, gosto da humanidade em geral, gosto de crianças... diversão: gosto de ler, de escrever, conviver, gostava de ter amigos verdadeiros, como divorciada não gostava de envelhecer sozinha, estou em casa sempre que não trabalho... e gostava de ser mais feliz... encontrar alguém para amar e fugirmos à monotonia.