terça-feira, 31 de março de 2009

CAPÍTULO VI - O PEDIDO - ANO DA NEVE 1954

Brancos farrapos de neve caíam do céu cinzento, que logo tudo prateara. Aqui e ali apenas se podia ver a verdura que espreitava por detrás das vidraças, aglomeradas por uma extensa barra de neve.
As crianças lá fora na rua brincam ao escorrega, fazem bonecos de neve, saltam, gritam de contentamento. Maria José olha-as através da janela, quando vai para chamá-las vê um vulto de homem que se aproxima da casa. A rapariga logo o reconhece e exclama de si para si: "Oh! Meus Deus é ele! Ele vem falar com o meu pai".
O rapaz chega à rua fala aos irmãos de Maria José que são a Teresa e o João.
__ Meninos eu quero falar com o vosso pai, ele está em casa?
__ Está sim, Senhor __ responde a Teresa e continua a brincar com a neve.
__ Então vai dizer-lhe que quero falar com ele __ acrescenta o recém-chegado.
Teresa era uma criança de oito a nove anos de idade, de grandes olhos castanhos, cabelo curto, nariz espetado, atrevido. Deteve-se da brincadeira. Abeirou-se da porta e chamou o pai.
__ Pai está aqui na rua um Senhor que lhe quer falar.
__ Eu vou já __ responde João Reis.
Maria José trémula como uma menina assustada continuava à janela do quarto olhando a neve que caia sem parar. No seu peito o coração bate-lhe fortemente. Na sua boca os lábios estão mais rubros que nunca. E logo deixa escapar um suspiro: "meu amor".
Quando o pai a chama fica assustada, muito a custo responde:
__ Sim meu pai... vou já!
Quando Maria José chega junto do pai, este pergunta-lhe:
__ Olha filha, tu conheces este rapaz?
__ Conheço sim, meu pai...
__ Então senta-te. Temos de falar __ continua o pai. __ O Joaquim diz gostar de ti, eu quero saber se tu também gostas dele.
__ Sim meu pai, eu gosto dele.
João Reis manda a filha voltar ao trabalho doméstico. Quando fica a sós com o pretendente da filha convida-o para padrinho do filho que tem apenas dias. Este perante o inesperado convite fica confuso, mas pensando em Maria José aceita o convite e pergunta:
__ Senhor João quem é a madrinha do bebé?
Perante a pergunta o homem fica por algum tempo pensativo e responde:
__ A madrinha do bebé pode ser a Maria José. Uma vez que gostam um do outro, não vejo motivo que para o qual, não possam ser padrinhos do meu filho. Pelo contrário...
O rapaz ao ouvir aquelas palavras fica radiante e sorri de contentamento. Tinha finalmente o consentimento do pai de Maria José __ pensou __ mas como iria ele dizer à sua amada que podiam namorar? E que juntos podiam fazer projectos para o futuro?
Uma semana mais tarde depois da repentina separação, o seu pensamento foi realizado. Como tinha aceitado o convite que João Reis lhe havia feito, Joaquim Elias no domingo seguinte voltou a casa deste com o pretexto de ficar ao corrente da data do baptizado. Quando chegou à rua do casebre deu com os olhos em Maria José, que não o esperava.
__ Olá! Como estás Maria José?
__ Eu estou bem, obrigada. E tu?
__ Eu, ao pé do meu amorzinho estou sempre bem __ respondeu o rapaz e aproximando-se da jovem pergunta:
__ O teu pai está em casa? Eu queria falar com ele.
__ Não. O meu pai foi à Quinta do Joaquim dos Barros, mas não deve demorar.
__ Então! Não me digas que estamos sós?
A rapariga não responde. Trémula olha o jovem. Este pega nas mãos da sua amada e aperta-as entre as suas. E de seguida apertou-a ternamente contra si, enquanto os seus lábios foram beijá-la ao de leve nos seus louros cabelos. Numa troca de olhares as suas bocas levemente se juntaram num longo e ardente beijo. O jovem olha-a docemente e ao ouvido dela, diz-lhe:
__ Amo-te, Maria José. Amo-te muito. E não tenhas medo. Os beijos que trocamos não são pecaminosos são simplesmente uma forma de juramento que nos prende. E de mais já falei com teu pai, ele deu-nos o seu consentimento e convidou-me para padrinho do teu irmão. Sabias?
__ Não. Não sabia! __ Exclama Maria José surpreendida.
__ E então vais ser tu o padrinho do meu irmão? E quem vai ser a madrinha?
__ Então o teu pai não te disse nada? Eu sou o padrinho e tu a madrinha __ acrescenta o jovem muito admirado.
A jovem fica sem balbuciar palavra. Olha para ele e sorri, só depois consegue perguntar:
__ Joaquim foi meu pai que te convidou? E como foste capaz de não me dizer nada?
__ Oh! Não, meu amor. Não estejas pensando que fui egoísta.
Maria José ia para falar quando o pai chega. Este dá os bons-dias e manda entrar o jovem para casa. Depois de se sentarem, João Reis pergunta:
__ Há muito tempo que chegou? Eu fui à quinta tratar de uns assuntos.
__ Não Senhor João cheguei agora mesmo. Passei por cá para saber para quando está marcado o baptizado do seu filho. Pois é que para a outra semana vou para Sines. A traineira vai para lá pescar e não sei quando volta.
__ Eu já falei à minha mulher no assunto. Só a Maria José é que não sabe, mas fale-lhe você nisso. E escolham juntos o nome do bebé.
João Reis chama a filha que está na cozinha. Deixando-os a sós sai para tratar dos animais que tem a seu cargo.

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Tenho bom coração, bom carácter, gosto da humanidade em geral, gosto de crianças... diversão: gosto de ler, de escrever, conviver, gostava de ter amigos verdadeiros, como divorciada não gostava de envelhecer sozinha, estou em casa sempre que não trabalho... e gostava de ser mais feliz... encontrar alguém para amar e fugirmos à monotonia.