quinta-feira, 2 de abril de 2009

CAPÍTULO III - O REENCONTRO

Do outro lado da barreira Maria José passava os dias junto da madrinha a Senhora D. Leonor que continuava doente. Maria José tratava ainda dos trabalhos de casa e da criação como uma verdadeira camponesa. À noite esperava o padrinho que chegava do trabalho cansado pelo fardo dos anos que já tinha e ainda do forçado trabalho que lhe impunham no lagar.
O Senhor Lourenço ao chegar a casa sentava-se na cozinha e esperava que a afilhada lhe servisse a sopa. Maria José como habitualmente já tinha preparada uma bacia com água quente e sal diluído para o padrinho mergulhar os pés enquanto comiam. Depois do jantar reuniam-se os três no quarto de Dona Leonor onde falavam dos mais diversos assuntos e principalmente do futuro de Maria José.
__ Maria José tem pai não devemos esquecê-lo e, como tal tem de olhar pela filha quando eu fechar os olhos __ diz a Senhora D. Leonor e acrescenta. __ Ele é casado tem um lar e pode lá ter a filha. Nós temos de o procurar e dizer-lhe que ela precisa dele mais do que nunca.
O senhor Lourenço ao ouvir as palavras da esposa fica pensativo. Ele ainda não tinha pensado que se a sua companheira fechasse os olhos ficaria na solidão daquela grande quinta. Depois de perder a mulher tinha também de perder a afilhada que criou como filha. Era o grande castigo. O castigo de ser velho. Não era justo __ pensou __ mas não tinham seus pais, seus avós e ainda seus bisavós sofrido o mesmo castigo?! O castigo de ser velho não eram apenas os cabelos brancos, as costas curvadas e as pernas pesadas eram também o frio, a fome, a solidão e ainda a repugnância daqueles que eram jovens.
Maria José ao ouvir as palavras da madrinha ficou triste. Ela olhava para um e para o outro desejando falar, mas as palavras não lhe saíam da garganta. Só muito custo disse:
__ Não. Eu não quero ir para casa do meu pai e da minha madrasta.
A Senhora D. Leonor que a olhava com atenta benevolência, disse-lhe:
__ Mas minha querida, mais tarde ou mais cedo, eu parte deste Mundo, e...
O resto das palavras secam-se-lhe na garganta. Os olhos têm lágrimas represadas que o escuro do quarto só deixava ver quando a lareira se reflectia nos rostos dos três entes queridos. O momento foi de dor. Aquele corpo inerte de vida era o corpo da madrinha que foi a sua segunda mãe e, como esta partia agora para nunca mais voltar.
Ao cair da tarde depois do fúnebre Maria José acompanhada do padrinho chagaram à quinta. Ambos olham em redor e tudo lhes parece diferente. As árvores, as flores, o cão, o gato, a criação e até a casa era mais escura... tudo parecia chorar a morte da Senhora D. Leonor. O Senhor Lourenço olhou demoradamente a afilhada e, disse:
__ Maria José amanhã vou falar com o teu pai para te vir buscar. Não! Não digas nada. Apenas obedece ao último pedido da tua madrinha.
Nos grandes olhos verdes haviam lágrimas de desespero, mas logo a coragem as secou.
__ E tu padrinho? __ Perguntou a custo.
__ Eu fico aqui na quinta __ disse o Senhor Lourenço. __ Podes cá vir quando quiseres.
Ao romper da aurora no dia seguinte o Senhor Lourenço saiu para procurar o pai da afilhada. João Reis era um homem duro com pouca sensibilidade, mas cumpridor dos seus deveres e sobretudo muito orgulhoso. Logo que foi posto ao corrente do sucedido foi buscar a filha para casa. Entregou-a à mulher que a recebeu de braços abertos e logo se tornaram mãe e filha.

1 comentário:

Isabel Moreira Rego disse...

Escrever este livro aqui na integra deu muito trabalho. E gostava que esse trabalho fosse compensado pela leitura do mesmo.
Obrigada
Jinhos
Isa

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Tenho bom coração, bom carácter, gosto da humanidade em geral, gosto de crianças... diversão: gosto de ler, de escrever, conviver, gostava de ter amigos verdadeiros, como divorciada não gostava de envelhecer sozinha, estou em casa sempre que não trabalho... e gostava de ser mais feliz... encontrar alguém para amar e fugirmos à monotonia.