segunda-feira, 6 de outubro de 2008

CAPÍTULO XXI - O NOIVADO

À tarde quando Isabella chega a casa. A avó diz-lhe:
_ Isabella, o carteiro trouxe uma carta para ti.
_ Para mim avozinha?
_ Sim, pega, lê. De quem é carta? Tu não costumas receber cartas. É da tua mãe? _ Perguntava a senhora D. Isabel pensando no pior.
Isabella, depois de olhar o sobrescrito, reconheceu imediatamente a letra e respondeu a avó.
_ Não avozinha...
_ Então de quem é a carta... _ pergunta a avó impaciente. _ É má notícia?
_ Não avozinha.
_ Então o que é?
_ É... _ a rapariga não acaba a frase e começa a ler a carta. A avó olha-a... e quando a neta acaba de a ler, pergunta:
_ Então que diz a carta. São más notícias?
_ Não avozinha... mas pegue-a, lei-a a avozinha e, diga-me o que pensa da carta.
Ao dizer as últimas palavras Isabella passa a carta para as mãos da avó e fica a olhá-la enquanto esta a lê. A senhora D. Isabel quando acaba de ler a carta olha a neta e exclama:
_ Queres saber o que penso?
_ Sim avozinha _ diz Isabella baixando a cabeça.
_ Eu penso que esse rapaz está apaixonado por ti... mas quantos anos tem ele?
_ Não sei...
_ Há uma coisa que eu não compreendo.
_ O que é avozinha?
_ É a carta. Esta carta, não é uma declaração... ele nesta carta, pede a tua compreensão e o teu perdão. O que se passa Isabella?
_ Nada avozinha _ responde a rapariga timidamente.
_ Nada?! Não. Passa-se qualquer coisa. E deves dizer-me para que eu possa aconselhar-te.
Isabella olha a avó e a medo conta-lhe tudo. A senhora D. Isabel acrescenta:
_ Assim compreendo.
_ Avozinha o que devo fazer?
_ Não sei muito bem, filha! Mas diz-me, tu gostas dele?
_ Não sei!
_ Não sabes! Então quem sabe? Só tu podes saber e decidir... e se gostas dele...
_ Eu gosto, mas...
_ Mas o quê? _ Pergunta a avó meigamente.
_ Eu sou muito nova... e ele...
_ Ele deve de ter vinte e cinco ou vinte e seis anos. Mas isso o que tem? Teu avô era mais novo do que eu, nove anos... e nós sempre gostamos um do outro e, casamos...
_ Então posso falar com ele aqui na quinta?
_ Podes. Uma vez que eu esteja em casa, mas nada de confiança e entradas cá em casa.
_ Está avozinha! E eu posso ir agora á planície?
_ Podes.
Isabella caminha em direcção à planície e quando chega junto ao monte de pedras( lugar onde costuma passar algumas horas, nas tardes quentes de Verão, para ver o pôr-do-sol e ainda para contemplar a paisagem e ouvir, ainda, no silêncio o cantar dos pássaros) ela estremece ao ver sentado numa das pedras, um vulto que logo reconhece. Pensa voltar para casa, mas desistiu. Ao chegar junto do vulto diz:
_ Olá!
Este, com o pensamento nela, ao olhá-la não a reconhece verídica. E piscando os olhos contra o sol, pareceu-lhe ver uma imagem envolta de luz, como num sonho. E logo exclama entre si. "Meu amor perdoa-me! Não te beijei por mal, mas porque te amo muito e faltaram-me as forças para resistir aos teus lábios".
Isabella que olhava para ele, sem fazer ruído, ao ouvir sumidamente as últimas palavras ajoelhou-se junto dele. E acariciando ao de leve as suas mãos que estavam sobre os joelhos, diz baixinho:
_ Alexandre. Meu amor! Estou aqui junto de ti...não me vês? Ouve Alexandre, eu estou aqui...
O rapaz estremece e como que impelido por uma mola, levanta-se. Ambos se abraçam e se beijam num longo beijo.
_ Meu amor, como me amas! E eu que não compreendi. E amo-te tanto! E como nós sofremos por esse amor que nós próprios quisemos tornar impossível.
_ Sim, Isabella, eu cheguei a pensar que era impossível conquistar o teu coração.
_ Mas hoje não é assim Alexandre! Hoje tenho provas do teu amor.
_ Provas?! Que provas?
_ Sim, provas de que me amas.
_ Já sei que tens provas do meu amor, agora diz-me que provas?
_ Ora! Porque estavas falando sozinho e nem ouviste eu chegar junto de ti.
_ Sim. E o que dizia eu?
_ Não te lembras? Pedias-me perdão e dizias que não me tinhas beijado por mal, mas porque me amas e não podes resistir aos meus lábios.
_ Eu disse isso? E então perdoas-me?
_ Sim meu amor! _ Exclamou Isabella e caindo nos braços do seu amado beija-o levemente. Ele volta a acariciar os seus lábios palpitantes, com um longo beijo. Quando se separaram, os seus olhos cruzaram-se numa confissão de amor. E quando se despediram ficou a promessa de um novo reencontro. Esse reencontro iria decidir as suas vidas.
***
Ao chegar a casa Alexandre encontrou a sua mãe entre as portas do corredor. Esta pergunta-lhe:
_ Aonde foste?
_ A parte alguma, minha mãe.
_ Não me parece! Ontem vi-te lá em baixo na planície sentado no chão... esperavas alguém?
_ Não. Quem havia eu de esperar?
_ Sei lá! Aquela a quem deste o vestido de veludo... ou ela já te deu com os pés?
_ A mãe não me fale nesse tom, da mulher que eu amo.
_ Claro! _ Pronuncia a senhora Emília sorrindo cinicamente. _ E como queres que eu fale dela? _ interroga a mulher dando costas para o filho.
_ Como quiser, mas não nesse tom...
_ Está bem Alexandre, mas não me venhas dizer mais tarde, que eu tinha razão.
_ Mas razão para quê? Para falar nesse tom grosseiro? A minha mãe não sabe que nesse tom, só falam as pessoas sem cultura e sem educação?
_ Ah! Queres dizer que já aprendeste com ela, a não falar a toda a gente?
_ Isabella fala a toda a gente. Só não fala para as pessoas, a gritar, como é o seu hábito. Essa maneira de falar é grosseira e se ela assim falasse, eu seria o primeiro a reconhecer que ela não me merecia. Assim pelo contrário, sou eu, que não a mereço! E sabe porquê?
_ Não. Mas deve de ser porque eu, não falo á finória... com cultura, como tu lhe chamas. Eu gostava de saber que palavra é essa... "cultura"... é alguma palavra estrangeira?
_ Não minha mãe é bem portuguesa.
_ E com quem aprendeu ela a falar à portuguesa? _ Pergunta a mulher em ar de troça.
_ Devia ter sido com os avós. Não lhe parece?
_ Claro!Na cadeia aprendesse muita coisa.
_ Não me fale nesse tom! O avô dela esteve preso, mas não por roubar ou assassinar alguém.
_ Claro! Ninguém em especial, mas a todos nós...
_ Cale-se!_ Grita o rapaz já descontrolado dos nervos.
_ Ah! Como tu a defendes. Vocês os homens, só gostam de mulheres frágeis, débeis e mimadas...
***
Alexandre no dia seguinte desceu à "Quintqrola Silva" com a ideia de pedir à avó de Isabella, a mão da neta em casamento. Esta, está em casa e, quando vê o rapaz a aproximar-se do portão vai ao seu encontro. Ele cumprimenta-a.
_ Olá senhora D. Isabel, como está de saúde?
_ Eu estou muito bem. Obrigada! E sua mãe, como está ela?
_ Minha mãe, está boa. ahoje foi trabalhar.
_ Claro! Temos de trabalhar para viver ou para sobreviver... Isabella também foi trabalhar _ acrescenta a mulher.
_ Ah, sim?
_ Foi. Queria falar com ela?
_ Não. Eu quero falar com a senhora D. Isabel.
_ Comigo? Do que se trata? _ Perguntou a mulher olhando o rapaz que tinha na sua frente.
_ Trata-se de Isabella e de mim...
_ Claro! Eu sei... Isbella contou-me tudo...
_ Sim? _ Perguntou o rapaz muito admirado.
_ Mas entre... e sente-se aqui à fresquinha _ convida a mulher enquanto lhe indica o caminho. O rapaz transpôs o portão de ferro que circundava todo o edifício e sentou-se num dos bancos de pedra, à sombra de uma trepadeira, junto ao pequeno jardim. A senhora D. Isabel segue-o no gesto e, quando já estão sentados, ele pergunta:
_ Senhora D. Isabel, se Isabella lhe contou tudo, a senhora conhece portanto, os meus sentimentos em relação a Isabella.
_ Sim. Pelo que me contou a minha neta e, por aquilo que eu li nas cartas que escreveu, eu conheço mais ou menos os seus sentimentos e, gostava de lhe pedir um favor.
_ Claro, senhora D. Isabel. Peça.
_ A minha neta é muito nova, tem apenas dezasseis anos. O senhor é muito mais velho. Eu não digo que a diferênça de idades tenha influência num casamento, mas quero com isto dizer que o senhor tem idade de saber o que quer, minha neta não. E então se gosta dela, como deixou transparecer nas suas cartas, faça por a merecer. Não se apreveite do facto de ela não ter o avô. Nós samos duas mulheres sós na quinta, mas toda a gente nos respeita.
_Claro, senhora D. Isabel. Eu nunca tive ideia de inrespeitar alguém e muito menos Isabella. Eu a amo.
_ Então, faça-a feliz! Eu sempre tenho feito tudo, para que ela o seja... continue o senhor o que eu começei e, terá o meu consentimento.
_ Obrigado, senhora D. Isabel. Eu prometo fazê-la muito feliz.
Depois do pequeno diálogo o rapaz antes de se despedir, pergunta:
_ A que horas chega Isabella a casa?
_ Não sei! Mas talvez à tardinha...
_ Eu posso ir esperá-la ao trabalho e acompanhá-la a casa?
_ Pode, mas não depende só de mim!...
_ Claro! Eu compreendo. Adeus D. Isabel. Até logo à tardinha-
_ Até logo...
***
Passados seis meses Isabella é convidada por Deolinda, para a festa do seu aniversário. Isabella acompanhada de sua avó compareceu à festa, onde foi muito bem recebida pelos danos da casa. Entre os convidados encontravam-se: Marta, Paula, Margarida, Cecília, Rui Pedro e tantos outros que ela logo reconheceu... Rui Pedro com os olhos postos na esbela figura de Isabella que havia já alguns meses não via, aproximou-se dela e, convidou-a:
_ Está tanto calor cá dentro. A Primavera este ano está escaldante, não acha?
_ Sim, acho!Mas eu gosto muito da Primavera. A Primavera para mim é a estação mais bonita do ano e, é nela que renasce tudo quanto está adormecido.
_ Por exemplo? _ Perguntou Rui Pedro.
_ Por exemplo as árvores, os frutos, as flores, os pássaros e até os sentimentos das pessoas são mais abertos, mais sinceros... e tudo isto graças ao sol da Primavera! _ Acrescentou Isabella num sorriso.
_ Isabella, você é muito compreenciva, apaixonante e parece ler em cada um de nós, o que nos vai na alma.
_ Não. Eu apenas amo a Natureza e compreendo as pessoas ou melhor, tento compreendê-las!
_ Isabella está muito calor cá dentro. Quer ir até ao jardim?
_ Vamos... _ responde Isabella com o seu ar confiante.
Em silêncio os dois saem da sala acompanhados pelo olhar dos convivas.E lado a lado, o par percorre os estreitos corredores entre flores salpicadas das mais variadas cores. Foi ele que quebrou o silêncio dizendo:
_ Apesar do calor, cá fora está fresco!
_ Sim, esta frescura é própria da Primavera.
_ Sem querer o rapaz apanha uma das mãos da jovem. Ela ao sentir o seu contacto olha-o enquanto delicadamente retira a mão.
_ Desculpe... _ deixou escapar o rapaz susceptível. Isabella não respondeu. Olharam-se. Ele acrescentou _ , desculpe Isabella! Eu não quis magoá-la.
Por algum tempo o silêncio estabeleceu entre eles uma mútua contemplação à natureza. Por fim ele aproxima-se dela oferecendo-lhe uma flor ao mesmo tempo que diz:
_ Isabella, olhe as pétalas desta flor são delicadas e perfumadas como alguém que eu conheço.
_ Sim? E quem é esse alguém?
_ Posso dizer sinceramente?
_ Pode.
_ É você Isabella! Você com a sua natural, delicada e perfumada frescura me deixa deslumbrado.
_ Rui Pedro, você exagera em tudo o que diz a meu respeito. Eu sou como todas as raparigas.
_ Claro que não é! Para mim não... se fosse, não estaria o meu coração tão maravilhado com a sua presença.
_ Pedro você continua a exagerar!
_ Isabella eu a amo! A amo muito...
A rapariga perante aquela confissão fica perplexa e pede:
_ Vamos para dentro?
O rapaz corre para ela. Pega-lhe numa das mãos e beijando-a pede:
_ Isabella não me dê já uma resposta, mas...
_ Não Pedro, eu tenho namorado.
_ Então é verdade que namora o irmão de Marta?
_ Sim é verdade. Mas pelo o que vejo, não é verdade que você namora a Marta?!
_ Eu e a Marta?! Não. Nós não nos namoramos.
_ A mim disseram-me que se namoravam na altura do baile de aniversário do clube. E até me disseram mais...
_ Não. Mas o que foi que lhe disseram mais?
_ Que ela estava firiosa comigo por nós termos dançado no baile do clube.
_ Ah! E você, Isabella, quer provar-lhe que ela foi injusta consigo?
_ Não. Não quero provar-lhe nada. Simplesmente tenho namorado.
Dizendo as últimas palavras Isabella volta para dentro e junta-se aos outros convidados. O rapaz segue-a. Quando já estão entre os outros convivas ele acrescenta aproximando-se dela:
_ Isabella, não posso acreditar! Ele é muito mais velho que você e anda sempre fora do País. Não é possível você ser tão injusta consigo mesma! Não é possível Isabella, não é possível...
***
Ao chegar à estação do caminho de ferro, o comboi pára. Na estação Isabella espera o seu namorado que ao vê-la corre para ela abrançando-a carinhosamente. Ela ao olhá-lo pronuncia:
_ Meu amor, saudades eu tinha...
_ Também eu Isabella, meu amor!
_ Por quanto tempo te posso abraçar?
_ Por um mês!
_ Ah, meu amor! Irá ser sempre assim a nossa vida?
_ Mão. Quando casarmos irás viajar comigo muitas vzes.
_ Sim? Vou contigo _ pergunta Isabella radiante _ que bom?!
_ Vamos para casa querida.Nós temos muito para dizer um ao outro.
_ Ah, é?! E o que tem o meu amor para me dizer?
Caminharam para casa, lado a lado. Quando chegaram à "Quintarola Silva" D. Isabel já os esperava para jantar.
_ Vamos meninos... o jantar já está na mesa.
_ Vamos já avozinha _ gritam os dois ao mesmo tempo, da soleira da porta.
_ Você Alexandre não vai jantar a sua casa? _ Pergunta a senhora D. Isabel.
_ Não D. Isabel! Minha mãe é contra ao nosso casamento. E eu, para não a ouvir, só vou a casa para dormir.
_ Casamento? Mas vocês vão casar já... _ pergunta a mulher surpreendida.
_ Sim avozinha. Nós marcámos a data do nosso casamento para daqui a três meses. E no domingo vamos convidar para o jantar todos os nossos amigos e familiares para lhes participar o nosso noivado.
_ E os teus pais?
_Vêem também! E vêem também os meus irmãos. E não podemos esquecer também a Deolinda e o Rui Pedro. Eles namoram-se! Sabia avozinha?
_ Não. Não sabia. Ah! Esta mocidade... casa tudo e eu fico para aqui sozinha!
_ Não fica não Nós ficamos cá,com a avozinha... E quando nos mudarmos levamo-la connosco.
_ Já estou velha queridos.
_ Não está não! Velhos são os trapos... _ responde Isabella meigamente enquanto dá um beijo a avó.
_ E a sua mãe, Alexandre, vem à festa de noivado?
_ Se ela quizer vir, vem...
_Claro! E se não quiser vir, nós havemos de ser muito felizes, mesmo sem ela _ diz Isabella com um sorriso nos lábios.
_ Claro meu amor _ acrescenta Alexandre e pergunta-lhe:
_ És feliz Isabella?
_ Sou Alexandre! E pela primeira vez na vida...
Os três abraçam-se comovidos...
Na sua juventude, Isabella chegaria alguma vez a ser feliz? E Alexandre?! O que pensais vós?!...

1 comentário:

Isabel Moreira Rego disse...

Amigos se chegaram aqui no final do livro deixem por favor um comentário com a vossa opinião.
beijinho
obrigada
isabel Moreira

Powered By Blogger

Acerca de mim

A minha foto
Tenho bom coração, bom carácter, gosto da humanidade em geral, gosto de crianças... diversão: gosto de ler, de escrever, conviver, gostava de ter amigos verdadeiros, como divorciada não gostava de envelhecer sozinha, estou em casa sempre que não trabalho... e gostava de ser mais feliz... encontrar alguém para amar e fugirmos à monotonia.